sábado, 27 de janeiro de 2024

Hoje assisti um filme que me lembrou que sou uma alguém sozinha. Sentimentos de solidão e solitude, e do que vai ser de mim na ausência carnal das pessoas que amo. Tua ausência ainda ressoa em mim como uma morte carnal. Não posso te ver, te tocar e nem dizer que te amo. Não posso ouvir tua voz rindo. Não posso sentir teu cheiro. Eu não escolhi isso, mas você sim. O que me resta é viver o luto e esperar não a sua volta, mas o dia em que lembrar da sua ausência não vai me trazer mais dor, e sim uma nostalgia boa.


terça-feira, 16 de janeiro de 2024

reencontrando o sentimento de vontade de levar meu corpo pra ver o mundo. de olhar pra ele como algo que precisa de manutenção. não é que ele carece, ele sente. se ele tem sede, eu dou água. se tem fome, dou comida. se pede colo, as vezes demoro pra dar ouvidos, mas logo mais o permito chorar. se ele sente dor de ausências, faço poesia ou conto uma piada. se quer sumir, tento levar ele pra ver o mais banal do cotidiano. não existe nada melhor do que permanecer no presente sem apagar um passado que foi bem vivido e soltar. e assim a tentativa de conviver comigo mesma se transforma numa grande amiga, ao invés de um peso.

domingo, 22 de outubro de 2023

Receita pra manter um bolo de amor

 Existe uma receita pra fazer continuar crescer um bolo de amor bonito. É daquelas receitas que estão escondidas em folhas desgastadas e emboloradas pelo tempo. Antiga porém preciosa. Não esquecer sob nenhuma hipótese que os pares de mãos nem sempre vão estar em conjunto, precisando alternar-se entre si vez ou outra. Precisa saber quando dar mais água pra ele nos dias mais secos. Precisa saber enxergar as feridas que ainda não estão completamente cicatrizadas. Lambê-las e beijá-las com álcool, devagar. Precisa saber dar ouvidos nos dias mais gritantes. Precisa dar voz ao amor, que pode se vestir de palavras e ações. Precisa de doses equilibradas de disciplina, paciência e respeito ao tempo do amor, principalmente quando ele for escondido.

 Para uma corda que está quase se arrebentando, apenas microcentímetros de pequenas costuras diárias fazem aquela frágil estrutura não rasgar. E alguns rompimentos são necessários até saber a forma e a pressão exata de fazer o ponto de costura: nem muita folgado e nem muito apertado, na medida certa praquele amontoado de subjetividades que de longe parecem confusas, mas de perto fazem completo sentido.

terça-feira, 20 de junho de 2023

enquanto a vida me acontece

o lembrete da finitude insiste 

em susurrar sorrateiramente

como um fantasma baderneiro

nos meus ouvidos

se prepara pra o que vai acabar

mas de repente já não consigo compreender

as palavras ficam sem tradução

e num susto

lembro de novo do que esqueci

a vida me acontece

    




Cena do filme O Fabuloso Destino de Amelie Poulain





domingo, 4 de junho de 2023

Dentro de colchões d'água existem espinhos finíssimos 

Movem-se com as estações dos anos, às vezes amontoados em arestas, às vezes bem distribuídos 

Talvez nenhum processo seja isento de sofrimento

Guardar os motivos numa caixa de música pra que suas lágrimas não dancem em ouvidos e bocas errantes por acreditarem na mentira que criam de si mesmos

O ego é faca cega, meus espinhos não. 


domingo, 26 de fevereiro de 2023

alguma coisa parecida com uma oração

 


💟

eu entrego ao mistério

minhas certezas 

minha descrença no outro

e minha descrença na vida

já não me cabem mais



que eu não me atente ao que só me trás falta 

ao que nunca vem e nem vai, não quero

de mediano ou incerto já basta uma parte de mim


que eu me atente a querer estar com o que me trás presença

 que haja entrega e despedida ao momento

que eu saiba me demorar no agora sem me perder no outro


que a hora da minha decepção demore

e que não aconteça por tudo

porque nem tudo merece minha atenção 


 

que eu entenda que a tentativa é uma via de mão dupla

  e que eu consiga encontrar a força e a confiança em algum lugar

que um dia escondi de mim mesma

💟

Hoje assisti um filme que me lembrou que sou uma alguém sozinha. Sentimentos de solidão e solitude, e do que vai ser de mim na ausência carn...